Falar da imagem musical da mulher
e da música brasileira sem tocar no nome dela seria um erro fatal. E só tocar
no nome dela também não seria o bastante. Por isso, Lira! reservou algumas páginas para uma pequena homenagem à essa
personalidade que é considerada a maior na história da música popular
brasileira. Quem é ela? Chiquinha Gonzaga! Então que Abram alas...
Filha do militar Basileu Neves
Gonzaga e de Rosa de Lima Maria, nascida no Rio de Janeiro em 17/10/1847,
Chiquinha Gonzaga foi compositora, instrumentista e regente. A primeira
pianista de choro, introdutora da música popular nos salões elegantes,
fundadora da primeira sociedade protetora dos direitos autorais e uma das
maiores marcas de expressões de luta pelas liberdades no país. A primeira
música que nossa homenageada compôs foi a “Canção dos Pastores”, quando tinha
apenas 11 anos de idade. Tudo indicava que seria uma vida inteira de talento.
Quando tinha apenas 16 anos, como
seguia a tradição da época, teve um oficial da Marinha Mercante como marido
escolhido por seus pais. Casou-se com ele, no entanto, poucos anos depois
Chiquinha Gonzaga, muito além de seu tempo, abandonou o marido escolhido pela
família por um engenheiro de estradas de ferro e dele logo se separou.
Ganhava a vida sendo professora
de piano e a convite de um famoso flautista, passou a integrar o Choro Carioca,
tocando em festas e freqüentando o mundo artístico da época. Não era comum a
presença feminina neste mundo, Chiquinha foi a primeira. Abrindo alas para as
artistas que viriam após ela. Seu início como compositora se deu em 1877, com
Atraente, que foi uma composição de improviso durante uma roda de choro na casa
do compositor Henrique Alves de Mesquita.
Chiquinha era desafiadora dos
padrões da época e com isso sofria fortes preconceitos, mas que não a impediram
de conquistar seu lugar.
Após dois casamentos abandonados,
Chiquinha apaixonou-se pelo também pianista Artur Napoleão e para um libreto
dele mesmo, escreveu uma partitura, viagem ao Parnaso, entretanto a peça foi
recusada pelos empresários. Outras tentativas fracassaram, mas em 1885
finalmente conseguiu musicar a opereta de costumes A Corte na Roça, encenada no
Teatro Príncipe Imperial. Em 1889, promoveu e regeu um concerto de violões.
Para justificar sua fama pelas
lutas de liberdade, Chiquinha foi uma ativa participante do movimento pela
abolição da escravatura, vendendo suas partituras de porta em porta a fim de
conseguir fundos para a Confederação Libertadora. Com o dinheiro arrecadado na
venda de suas músicas comprou a alforria de José Flauta, que era um escravo
músico. Além disso, Chiquinha Gonzaga também participou da campanha republicana
e de todas as grandes causas sociais do seu tempo.
Em 1899 já era uma artista
consagrada e compôs a primeira marcha-
rancho, Ó Abre Alas, verdadeiro hino do carnaval brasileiro até os dias atuais.
Muitas pessoas ouvem e não sabem quem foi a maravilhosa pessoa que a compôs.
Morou em Lisboa
por três anos e quando voltou ao Brasil deu uma contribuição decisiva ao teatro
popular musicando, em 1912, a burleta de costumes cariocas Forrobodó, seu maior
sucesso teatral. Em 1914 seu tango Corta-Jaca foi executado pela primeira- dama
do país, Nair de Teffé, em recepção oficial no Palácio do Catete, causando
escândalo político.
Após muita
campanha, em Setembro de 1917, liderou a fundação da SBAT, sociedade pioneira
na arrecadanão e proteção dos direitos autorais.
Sua última
partitura foi escrita aos 85 anos de idade, Maria, com libreto de Viriato
Corrêa. Sua obra reúne dezenas de partituras para peças teatrais e centenas de
músicas nos mais variados gêneros: polca, tango brasileiro, valsa, habanera,
schottisch, mazurca, modinha etc.
Aos 87 anos de
idade, em 28 de fevereiro de 1935, no Rio de Janeiro, Chiquinha Gonzaga
faleceu; deixando sua obra viva até hoje para quem quiser prestigiar.
Essa
interessante história é muito mais rica do que algumas poucas páginas que
reservamos à ela, espero que a revista Lira!
tenha despertado a curiosidade em você para que procure conhecer mais sobre
Chiquinha Gonzaga, você também não se apaixonou por ela?!
Pra finalizar
nosso espaço saudoso de Chiquinha Gonzaga, seguem trechos de algumas músicas
escritas por ela...
“Ai
morena a quem amo, a quem adoro
Não me sai um só momento da idéia
É faceira, dengosa e muito chique
Tem um pé... que beleza, que tetéia! – A
brasileira.”
“Tive dois amores na vida
Um eu dei meu coração
Dei a outra o meu amor
So fiquei na ilusão – Dois Corações.”
“Arrume
as coisas meu amor vamos simbora
É melhor deixar de choro que se não te levo
agora
Só vou contigo se tu se casar comigo
De promessa eu ando cheia
O teu amor corre perigo – Vamos Embora.”