Na década de 1990, a música sofreu diversas inovações em relação à melodia e às letras, sendo vista como
“lixo cultural”. Esse discurso pejorativo desvalorizava os novos artistas
populares, que traziam o axé, o pagode, o funk, o hip-hop e o sertanejo às
paradas de sucesso.
Chico César e Sandra de Sá, através de letras
voltadas para a valorização da mulher afrodescendente, revolucionaram os anos
90 com as músicas “Mama África” e “Olhos Coloridos".
a minha mãe é mãe solteira
e tem que fazer mamadeira todo
dia,
além de trabalhar
como empacotadeira nas Casas Bahia”
“você ri da minha roupa, você ri do meu
cabelo,
você ri da minha pele,
meu cabelo enrolado (...) sarará crioulo
todo brasileiro tem sangue
crioulo”
Mamonas
Assassinas, com 7 meses de sucesso cantavam para as mulheres:
“Mina, seus
cabelo é da hora,
seu corpão violão,
meu docinho de coco,
tá me deixando louco
(...) ”
Nos anos 90 muitas bandas de pagode, compuseram de
forma bem humorada como se sentiam com o “abandono” da mulher amada, como a
música “Cilada”, do grupo Molejo:
“Que cilada,
desilusão,
ela me machucou,
ela abusou do meu coração (...)
Não era amor, era
cilada”
E também de forma deprimente, mostrando total dependência emocional do
ser amado, como as músicas “Lua Vai” do Katinguelê:
“Lua vai,
iluminar os pensamentos dela,
fala pra ela que sem ela eu não vivo,
viver sem ela é o meu pior castigo”
Gabriel O Pensador trazia em batidas do rap o sucesso “Lôraburra”, com rimas que relatam o humor ácido do rapper, que de forma preconceituosa reprime as mulheres que têm pouca bagagem intelectual:
“Marionetes alienadas vocês não têm jeito,
eu não sou agressivo,
contundente talvez,
o Pensador dá valor às mulheres,
mas não vocês,
vocês são o mais puro retrato da falsidade,
desculpa amor,
mas eu prefiro mulher de verdade,
lôraburra!”
Em “Pagu”, escrita no final da década de 1990 por Zélia Duncan e Rita Lee, em homenagem a poeta Patrícia Galvão, primeira mulher brasileira a ser presa no Brasil por questões políticas, que desconstrói o estereótipo da mulher “perfeitinha” da bossa nova, que deixa de ser o sexo frágil:
“Eu sou pau pra toda obra,
Deus dá asas à minha cobra (...)
nem toda brasileira é bunda,
meu peito não é de silicone,
sou mais macho que muito homem”
e mostra as consequências de se descumprir o papel social da mulher imposto pelo senso-comum:
“mexe e remexe na inquisição,
só quem já morreu na fogueira sabe o que é ser carvão (...)”
A maternidade é,
lindamente, interpretada na música 1º de Julho, feita em 1993 por Renato Russo,
em homenagem a Cássia Eller, que estava grávida:
o quanto te ensinei e
é nos teus braços que ele vai saber
(...)
Sou fera,
sou bicho
sou anjo e sou
mulher
sou minha mãe e minha filha,
minha irmã, minha menina
Mas sou minha,
só minha e não de quem quiser ”
Marisa Monte e Adriana Calcanhotto, segundo suas biografias foram, em
meados 1990, as raríssimas artistas brasileiras a gravarem discos ao vivo.
Marisa integrava samba, jazz, funk, blues, soul, bossa nova e rock com diversas
gerações e estilos musicais e Calcanhotto seguia a mesma linha, acrescentando o
pop às suas melodias.
A música “Beija Eu” revela de forma inovadora a mulher expressiva em seus
sentimentos, que revelam os quereres, libertam-se, falam sobre o amor.
Beija eu!
Beija eu, me
beija.
Deixa o que seja ser...
Então beba e
receba meu
corpo no seu.
Corpo eu,
no meu corpo.
Deixa!
Eu me deixo.
Anoiteça
e amanheça”
Nenhum comentário:
Postar um comentário