sábado, 30 de março de 2013

ANOS 90 - E VAI DESCENDO NA BOQUINHA DA GARRAFA ....




Na década de 1990, a música sofreu diversas inovações em relação à melodia e às letras, sendo vista como “lixo cultural”. Esse discurso pejorativo desvalorizava os novos artistas populares, que traziam o axé, o pagode, o funk, o hip-hop e o sertanejo às paradas de sucesso. 


Chico César e Sandra de Sá, através de letras voltadas para a valorização da mulher afrodescendente, revolucionaram os anos 90 com as músicas “Mama África” e “Olhos Coloridos"

 Mama África, 
a minha mãe é mãe solteira 
e tem que fazer mamadeira todo dia,                        
além de trabalhar 
como empacotadeira nas Casas Bahia  




 você ri da minha roupa, você ri do meu cabelo,
 você ri da minha pele,
 você ri do meu sorriso
meu cabelo enrolado (...) sarará crioulo
todo brasileiro tem sangue crioulo






Mamonas Assassinas, com 7 meses de sucesso cantavam para as mulheres:



 Mina, seus cabelo é da hora, 
seu corpão violão,                                            
meu docinho de coco, 
tá me deixando louco (...) 





Nos anos 90 muitas bandas de pagode, compuseram de forma bem humorada como se sentiam com o “abandono” da mulher amada, como a música “Cilada”, do grupo Molejo

Que cilada, desilusão,
 ela me machucou, 
ela abusou do meu coração (...) 
Não era amor, era cilada 

E também de forma deprimente, mostrando total dependência emocional do ser amado, como as músicas “Lua Vai” do Katinguelê

Lua vai, 
iluminar os pensamentos dela
fala pra ela que sem ela eu não vivo
viver sem ela é o meu pior castigo 


Gabriel O Pensador trazia em batidas do rap o sucesso “Lôraburra”, com rimas que relatam o humor ácido do rapper, que de forma preconceituosa reprime as mulheres que têm pouca bagagem intelectual:


Marionetes alienadas vocês não têm jeito,
eu não sou agressivo,
contundente talvez, 

o Pensador dá valor às mulheres,
mas não vocês,
vocês são o mais puro retrato da falsidade,
desculpa amor,
mas eu prefiro mulher de verdade,
lôraburra!
 


Em “Pagu”, escrita no final da década de 1990 por Zélia Duncan e Rita Lee, em homenagem a poeta Patrícia Galvão, primeira mulher brasileira a ser presa no Brasil por questões políticas, que desconstrói o estereótipo da mulher “perfeitinha” da bossa nova, que deixa de ser o sexo frágil: 

Eu sou pau pra toda obra,
Deus dá asas à minha cobra (...) 

nem toda feiticeira é corcunda, 
nem toda brasileira é bunda, 
meu peito não é de silicone, 
sou mais macho que muito homem

 e mostra as consequências de se descumprir o papel social da mulher imposto pelo senso-comum:

 mexe e remexe na inquisição, 
só quem já morreu na fogueira sabe o que é ser carvão (...)


A maternidade é, lindamente, interpretada na música 1º de Julho, feita em 1993 por Renato Russo, em homenagem a Cássia Eller, que estava grávida:

 Eu vejo que aprendi, 
o quanto te ensinei e 
é nos teus braços que ele vai saber                         
(...)
Sou fera, 
sou bicho
sou anjo e sou mulher
sou minha mãe e minha filha, 
minha irmã, minha menina
Mas sou minha,
 só minha e não de quem quiser

Marisa Monte e Adriana Calcanhotto, segundo suas biografias foram, em meados 1990, as raríssimas artistas brasileiras a gravarem discos ao vivo. Marisa integrava samba, jazz, funk, blues, soul, bossa nova e rock com diversas gerações e estilos musicais e Calcanhotto seguia a mesma linha, acrescentando o pop às suas melodias.
 A música “Beija Eu” revela de forma inovadora a mulher expressiva em seus sentimentos, que revelam os quereres, libertam-se, falam sobre o amor. 

Beija eu!
 Beija eu! 
Beija eu, me beija.
 Deixa o que seja ser...
 Então beba e 
receba meu
 corpo no seu. 
Corpo eu, 
no meu corpo. 
Deixa! 
Eu me deixo.
 Anoiteça
 e amanheça

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