O marco da música brasileira
nos anos 50 foi sem dúvida a Bossa Nova com
grande influência jazzística com cantores como Tom Jobim e João Gilberto,
revolucionaram compondo músicas sem aquele velho tom dramático das músicas de
samba-canção dos anos 40.
Aqui, o cenário musical
ganhou uma nova cara, onde no inicio da década cantores como Lupicínio Rodrigues, Emilinha Borba e Cauby Peixoto continuaram tocando nas
rádios com sucesso e no final canções como “Chega de Saudade” de Tom Jobim eram
tocadas disparadamente.
O romantismo era o grande
destaque nos dois estilos. Porém cada um com suas peculiaridades. Homens e
mulheres cantavam o samba-canção, com o conhecido jeitinho de “dor no cotovelo”.
Além de todas as estórias de traições e perdas, alguns cantores retratavam
implícita ou explicitamente um discurso machista onde a mulher devia obedecer a
seu homem e ser apenas dele.
“De dia me lava a roupa
De noite me beija a boca
E
assim nós vamos vivendo de amor”
Lupicinio Rodrigues foi
muito famoso nos anos 50 por suas músicas, de um modo geral, todas acompanhadas
de muito remorso, decepção ou ciúmes quanto sua amada e também relatos de
brigas culpando a mulher por causar ciúmes e/ou por desobedecê-lo. Como na
música “ Vou brigar com ela”, ele
diz:
“Desta vez
eu vou brigar com ela
Mesmo que
por isso eu tenha que morrer
Ela sabia
que eu não queria
Que ela
saisse sem me dizer
Desta vez eu
vou brigar com ela/Mesmo que porisso eu tenha que morrer.
Não se deve
confiar demais na vida
Ainda mais
tratando-se de amor
Por gostar
de fazer coisa proibida
É que o
mundo vive assim de sofredor
Esgotei
minha reserva de paciência
E ela teima
em me desobedecer ”
Outra personalidade da época foi o Cauby Peixoto conhecido como o “Sinastra
à brasileira” explodiu nas rádios com a música “Conceição” onde a protagonista da música é uma mulher sonhadora da
periferia que sofreu com falsas promessas de que sua vida seria melhor na
cidade grande. Outro sucesso de Cauby foi “Guerreiro
menino” com uma tentativa de desconstruir a ideia de que homens não choram:
“Um homem também chora
Menina morena
Também deseja colo
Palavras amenas
Precisa de carinho
Precisa de ternura
Precisa de um abraço”
Mulheres também cantoras do samba-canção traziam um discurso
ora diferente ora similar ao dos homens. Como por exemplo, a Emilinha Borba em seu auge lançou “Chiquita Bacana” onde canta sobre uma
mulher independente:
“Chiquita Bacana
Lá da Martinica
(...)
Existencialista
Com toda razão
Só faz o que manda
O seu coração”
Em suas outras canções Emilinha Borba mostrava um lado
mais poderoso das mulheres, como em “Paraíba”,
ela diz:
“Hoje
eu mando um abraço prá ti
Pequenina.
Paraíba masculina.
Mulher macho sim sinhô.
Ê da paupereira que princisa ja roncou
Ê da paraíba muié macho sim sinhô
Ê da paraíba meu bodoque se quebrou”
Pequenina.
Paraíba masculina.
Mulher macho sim sinhô.
Ê da paupereira que princisa ja roncou
Ê da paraíba muié macho sim sinhô
Ê da paraíba meu bodoque se quebrou”
Aos poucos, o samba-canção
foi ficando de lado, e aí, surge a Bossa
Nova bem no finalzinho dos anos 50. Tom
Jobim em parceria com Vinicius de
Moraes e João Gilberto com seus
grandes sucessos como “Chega de Saudade”
e “Eu não existo sem você” traz
em muitas de suas canções a imagem de uma mulher frágil, delicada e uma relação
mais platônica do que real com suas amadas.
Por enquanto, no final dos
anos 50 a bossa nova cantada mais por homens do que por mulheres canta de forma
intimista estórias de decepções amorosas.
João Gilberto em “Luciana” cantada por Tom Jobim parece
um homem mais experiente dar conselhos a uma mulher:
“Olha
que o amor, Luciana
É como a flor que não dura demais
Embriagador
Mas também traz muita dor, Luciana”
Na década seguinte, a imagem de mulher-musa e
distante fica explicita, como por exemplo, em “Garota de Ipanema” e “Ela é
Carioca”.
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