sexta-feira, 29 de março de 2013

ANOS 50 - A ERA DA BOSSA NOVA

                                                   
O marco da música brasileira nos anos 50 foi sem dúvida a Bossa Nova com grande influência jazzística com cantores como Tom Jobim e João Gilberto, revolucionaram compondo músicas sem aquele velho tom dramático das músicas de samba-canção dos anos 40.  
Aqui, o cenário musical ganhou uma nova cara, onde no inicio da década cantores como Lupicínio Rodrigues, Emilinha Borba e Cauby Peixoto continuaram tocando nas rádios com sucesso e no final canções como “Chega de Saudade” de Tom Jobim eram tocadas disparadamente. 

O romantismo era o grande destaque nos dois estilos. Porém cada um com suas peculiaridades. Homens e mulheres cantavam o samba-canção, com o conhecido jeitinho de “dor no cotovelo”. Além de todas as estórias de traições e perdas, alguns cantores retratavam implícita ou explicitamente um discurso machista onde a mulher devia obedecer a seu homem e ser apenas dele. 

 Compositor e cantor como Lupicínio Rodrigues que ganhou destaque com as músicas "Vingança""Nervos de Aço""Ela disse-me assim""Nunca""Loucura" e "Sozinha", canta em “Se acaso você chegasse” um relato de seu cotidiano com sua esposa onde fica clara o papel da mesma no lar:



   
De dia me lava a roupa
   De noite me beija a boca
             E assim nós vamos vivendo de amor




Lupicinio Rodrigues foi muito famoso nos anos 50 por suas músicas, de um modo geral, todas acompanhadas de muito remorso, decepção ou ciúmes quanto sua amada e também relatos de brigas culpando a mulher por causar ciúmes e/ou por desobedecê-lo. Como na música “ Vou brigar com ela”, ele diz: 

Desta vez eu vou brigar com ela
Mesmo que por isso eu tenha que morrer
Ela sabia que eu não queria
Que ela saisse sem me dizer
Desta vez eu vou brigar com ela/Mesmo que porisso eu tenha que morrer.
Não se deve confiar demais na vida
Ainda mais tratando-se de amor
Por gostar de fazer coisa proibida
É que o mundo vive assim de sofredor
Esgotei minha reserva de paciência
E ela teima em me desobedecer


Outra personalidade da época foi o Cauby Peixoto conhecido como o “Sinastra à brasileira” explodiu nas rádios com a música “Conceição” onde a protagonista da música é uma mulher sonhadora da periferia que sofreu com falsas promessas de que sua vida seria melhor na cidade grande. Outro sucesso de Cauby foi “Guerreiro menino” com uma tentativa de desconstruir a ideia de que homens não choram:                                 
       


Um homem também chora
 Menina morena
Também deseja colo
Palavras amenas
Precisa de carinho
Precisa de ternura
 Precisa de um abraço                                





Mulheres também cantoras do samba-canção traziam um discurso ora diferente ora similar ao dos homens. Como por exemplo, a Emilinha Borba em seu auge lançou “Chiquita Bacana” onde canta sobre uma mulher independente:



Chiquita Bacana
Lá da Martinica
(...)
Existencialista 
Com toda razão
Só faz o que manda 
O seu coração






Em suas outras canções Emilinha Borba mostrava um lado mais poderoso das mulheres, como em “Paraíba”, ela diz:

Hoje eu mando um abraço prá ti
Pequenina.
Paraíba masculina.
Mulher macho sim sinhô.
Ê da paupereira que princisa ja roncou
Ê da paraíba muié macho sim sinhô
Ê da paraíba meu bodoque se quebrou
 


Aos poucos, o samba-canção foi ficando de lado, e aí, surge a Bossa Nova bem no finalzinho dos anos 50. Tom Jobim em parceria com Vinicius de Moraes e João Gilberto com seus grandes sucessos como “Chega de Saudade” e “Eu não existo sem você” traz em muitas de suas canções a imagem de uma mulher frágil, delicada e uma relação mais platônica do que real com suas amadas.

Por enquanto, no final dos anos 50 a bossa nova cantada mais por homens do que por mulheres canta de forma intimista estórias de decepções amorosas.
João Gilberto em “Luciana” cantada por Tom Jobim parece um homem mais experiente dar conselhos a uma mulher: 

Olha que o amor, Luciana 
É como a flor que não dura demais 

Embriagador 

Mas também traz muita dor, Luciana


Na década seguinte, a imagem de mulher-musa e distante fica explicita, como por exemplo, em “Garota de Ipanema” e “Ela é Carioca”




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